Como se posicionar no mar usando um Sextante? Segunda parte.

Passo 2. Use o sextante.

Você deve tentar usar o sextante de preferencia quando o sol estiver mais alto no horizonte. Se possível próximo ao meio dia. Isso por que, quanto maior a abertura em graus do sextante menor a chance de erros de leitura, pequenos ângulos mais erros, ângulos maiores menos erros de leitura.

Se for o meio-dia do Equinócio, melhor ainda. O Equinócio se dá quando o sol está verticalmente na linha do equador, mas na prática, isto acontece um único dia no ano, os demais dias, o sol está um pouco ao sul ou ao norte da linha do equador (verticalmente dizendo).

Vamos usar este dia como exemplo para o cálculo preciso, mas pode ser qualquer outro dia considerando a declinação solar, pois o sol não estará verticalmente sobre o equador.

Fig. 1 – Sol no Equinócio, apenas para efeito de cálculo. O observador, olhando com o sextante para o Sul.

 

Fig. 2 – Sol no hemisfério norte, ou seja, passando na vertical em algum ponto entre a linha do Equador e o Trópico de Cancer.

 

O primeiro item do cálculo é subtrair de 90° do angulo que você mediu no sextante, quando apontado para o Sul, e supondo que você está na linha do Equador com o Sol verticalmente sobre sua cabeça.

Então você na Figura 1, subtrai de 90 sua medida:  o que dá  90° – 90° = 0° Ou seja Encontramos a Latitude: Você está sobre a linha do Equador.

Outro caso:

Suponha que você esteja em algum ponto entre o Rio de Janeiro e a linha do Equador. E você, olhando ao Norte, mediu com o Sextante 70°. Então 90° – 70°   =  20°  Como seu sextante estava apontado agora para o NORTE,  (lembre-se que você mede o angulo entre o Sol e o Mar no seu Horizonte – então você nunca vai medir ângulos maiores que 90° ) você está a 20°  ao Sul do Equador.  Mas como você não está no Equador, falta saber a declinação do Sol em relação ao dia do ano que você se encontra.

Você pode estar em qualquer ponto do globo à 20° ao Sul do Equador, mas precisa corrigir o cálculo com a declinação do Sol.

E mais, se você tivesse apontado o sextante para o Norte e a leitura do aparelho fosse 70°, então você teria como resultado da equação os mesmos 20°  só que ao NORTE do Equador.

20° NÃO É sua Latitude.

Ela seria 20° se e apenas se, o Sol estivesse sobre o Equador.

Adicionando a Declinação Solar para calcular a Latitude correta

É aí que entra a Declinação Solar (d) se você não está no sobre a linha do Equador, com o Sol verticalmente sobre você:

d = 23.43 * sin [360 / 365 * (284 + N)]

Usando a fórmula acima, se hoje for dia 25 de Fevereiro de 2019, e você numerou (N) os dias na sua folhinha (calendário) desde o inicio do ano até hoje então: Janeiro tem 31 dias + 25 dias de fevereiro, logo N= 31 + 25 = 56 

d = 23.43 * sin [360 / 365 * (284 + 56)]

d = 23.43 * sin [360 / 365 * (340)]

d = 23.43 * sin [360 / 365 * (340)]

d = 23.43 * sin [335,3424]

d = 23.43 * -0,41719  (o número negativo da função Seno, indica apenas o quadrante do ângulo, no círculo trigonométrico).

d = – 9,77

Ou seja, a declinação do Sol é de 9,77 para o dia 25 de Fevereiro.

Voltando as nossas contas:

(90° – angulo medido no sextante) – Declinação do Sol no dia 25 de fevereiro

(90° – 70°)   –  9,77 = ?

20° – 9,77° =  10,23   Sua reta de Latitude é 10.23° Sul – você está em algum ponto desta reta.

E a Longitude?

Aí que entra o seu relógio e o horário ajustado com o horário de Greenwish.

Lembrando que o Sol nasce no Leste e se põe no Oeste, a Longitude será apenas uma medida de tempo.

Como nosso globo terrestre é redondo, portanto possui 360°, e o dia tem 24 horas, então cada hora do dia dá (360°/24h) = 15° de Longitude a cada hora.

Greenwish é aquela cidadezinha na Inglaterra, que marca 0° em Longitude, aliás, a linha da Longitude passa bem sobre o laboratório de observação da pequena cidade.

O Brasil está em GMT -3 ou seja, o Sol nasceu no Leste 3 horas antes de Nascer em Brasilia, o horário oficial do Brasil – o Brasil está atrasado 3 horas em relação à Greenwish daí o -3 (Considere o Horário de verão ao calcular).

Então se agora são 10:00 horas da manhã no Brasil, então em Greenwich são 13:00 horas e lá o pessoal provavelmente já almoçou!!!

Lá em Greenwich, o Sol passou uma hora do meio dia, portanto uma hora = 15° W.

Um exemplo prático então:

Veja noa tabela de declinação Solar, o índice para o dia que você fez a medida em relação ao Sol.

Vamos fazer a medida para um ponto qualquer do Globo terrestre para o dia 29 de Julho às 9:00 da manhã.

Suponha que você encontrou 75° na medida do sextante.

Então: (90 – 75) + 19 = 34° de Latitude (na realidade para este dia dá uma declinação de 18° 46,5′ – eu estou arrendondando para facilitar o cálculo)…

Sabemos que são 9:00 horas da manhã – horário de Brasilia.

Em Greenwich 9:00 já passou três horas antes, ou seja em Greenwish são 12:00 horas.

Então:

Longitude = (nossa hora local – horário de Greenwish) * 15°

Longitude = (09:00h – 12:00) * 15°

Longitude = 3 * 15 = 45° E

Então nossa posição no globo terrestre é  34° S 45° E

Estamos nas proximidades deste ponto laranja.

 

Você sabe usar uma Bússola? Última parte.

Por fim, o desvio da bússola, influi no cálculo de sua rota. A rota que você traça tem o termo náutico “derrota” que basicamente é uma linha entre seu local de partida e seu local de chegada.

Então, além dos cálculos anteriores, some a eles o desvio da bússola. Como?
Depois que você compra uma bússola calibrada, e a coloca no seu veleiro, ela sofre um desvio de alguns graus. Isso se deve à peças magnéticas no seu veleiro, e circuitos elétricos na proximidade da bússola. Sim, uma mesma bússola colocada em veleiros diferentes pode ter desvios diferentes, pois as elétricas e ferragens destes veleiros são diferentes. Então, o fabricante do veleiro normalmente indica qual a curva de desvio da bússola para aquele modelo de veleiro.

E você deve soma-la à declinação magnética calculada anteriormente.

Abaixo, o desvio de uma bússola para uma determinada embarcação. 

Mais simples que isso? Use o GPS do seu celular com o programa Marine Navigator Lite, que é free, e baixe as cartas no formato raster da Marinha do Brasil, e navegue com seu celular Andróid !  É bem preciso e eu utilizo bastante.

Você sabe ler uma bússola? Parte I

Quando tinha uns 12 anos, ainda em Niterói, ganhei uma pequena bússola, e a usava no terreno em que morávamos para verificar a quantos graus norte estava o galinheiro ou o velho balanço, checava seu norte e verificava o que ocorria quando aproximava da agulha, um prego ou ainda um imã. Isso era o máximo que me permitia à época.

Para velejar, parto então do principio que pouco sei sobre a bússola, apenas os graus do galinheiro e do balanço, um a 180 graus do outro, e onde nascia o sol a leste e seu poente à oeste. E ainda a agulha da bússola que não indicava exatamente o norte entre o leste e o oeste, mas sim uma pequena variação para o lado esquerdo, seria um defeito da bússola? Alguém tinha me dado uma bússola qualquer, que pelo visto, não marcava nem ao menos o norte corretamente!

Palavras como “declinação magnética” e “desvio” tem hoje um grande significado. Mas não naquela época.

Então, partindo de uma carta náutica, podemos entender como ler a bússola e determinar nosso “rumo verdadeiro” para calcularmos nosso tempo de velejada, aproarmos o barco no angulo correto e chegarmos ao nosso objetivo.

A declinação magnética pode ser positiva ou negativa, e não é constante em todos os lugares do globo terrestre. Uma carta náutica pode ter uma ou mais indicações de declinação magnética, se estiver em uma escala muito grande pode ter mais de uma rosa dos ventos, simbolo que indica os pontos cardeais, Norte, Sul, Leste e Oeste, em todos os seus 360 graus angulares.

Na prática, a declinação magnética é a diferença em graus e minutos, entre o norte indicado na agulha da bússola e o meridiano geográfico, aquele que corta o globo de norte a sul, tal qual uma suculenta tangerina.